O vírus do eufemismo

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Por: Diego Gouveia

 

No último domingo, seis de junho de 2010, a senhora Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo, publicou em sua coluna uma nota onde criticava a forma como foi abordada, pela Folha, a questão dos problemas tributários enfrentados pela Natura junto à União e os Estados. O presente texto pretende dialogar diretamente com a senhora, Suzana Singer, e tentar relatar as impressões que o seu texto podem estar causando nos leitores.

Com o devido respeito, ao que parece, a Natura está, sim, sonegando impostos. Pela reportagem publicada na Folha terça-feira (01/06/10), no caderno Mercado, fica claro que a empresa está sob suspeita de ter feito transações ilegais para evitar pagar imposto. Logicamente que a Natura, como toda grande empresa, paga muitos impostos e possui um grande passivo tributário, porém não parece ser esta a questão que a Receita Federal está tentando descobrir em suas investigações. O que ficou subentendido em sua nota foi uma tentativa de "proteger" a Natura, fazendo parecer que a Folha omitiu informações, e que o fato não é tão grave como deixa parecer a reportagem. Obviamente que essa "acusação" tem um fundo de verdade. Não podemos esquecer que o diretor da Natura é o vice da chapa que pretende eleger Marina Silva (PV) presidente do Brasil. A Folha se declara neutra, mas quis claramente "sujar" a imagem do vice de Marina Silva, e conseqüentemente a imagem desta, ao publicar no caderno Poder de quarta-feira (02/06/10) uma continuação da reportagem de terça, ao invés de publicar a mesma no caderno Mercado, como feito no dia anterior, e dando destaque para o caso da Natura, esquecendo do Santander, também sob investigação. Claro que sua autocensura não permitiria citar tal fato, o que me leva a defender a tese de que melhor seria se nada tivesse sido citado em sua coluna sobre o assunto.

O que doeu mais não foi o fato de a senhora não ter citado as pretensões políticas na cobertura da Folha, mas sim tentar justificar algo errado através de atitudes erradas dos outros. O que a sua nota deixou transparecer é que, no final, o que vale é a mentalidade popular de "todo mundo faz, tenho direito de fazer também". Nunca um erro deveria ser justificado desta maneira, ainda mais um que envolve mais de um bilhão de reais que deveriam estar nos cofres públicos. Dívidas tributárias são comuns às grandes empresas, porém isso não quer dizer que sejam algo correto. É necessária a cobertura da imprensa sobre este assunto, justamente para evitar sonegações, como parece ser o caso da Natura. Interpretação errada das leis e altas cargas de impostos não deve servir de eufemismo para atitudes ilegais. Tenho certeza que esta não era a mensagem que a senhora gostaria de passar, contudo fica o alerta: é preciso ter certeza que um texto transmita exatamente a mensagem que queremos que ele transmita, e não outra.



VEJA TODOS OS SEUS EMAILS DE VÁRIAS CONTAS COM UM SÓ LOGIN. CLIQUE AQUI E VEJA COMO.

0 comentários: