Grupo Mães de maio compõem mesa de debate na Semana do Jornalismo

Por Amanda Aron

Na terça-feira, 25 de Maio, durante a Semana do Jornalismo, houve na PUC-SP a coletiva “A violência do Estado”. Nesse dia foram convidadas à mesa de debate duas mães que tiveram seus filhos assassinados por autoridades do Estado. Apesar do atraso de quase duas horas para o início da coletiva e após algumas pessoas deixarem o local impacientemente, o auditório ainda contava com muita gente que esperava encontrar aquelas dificilmente ouvidas pela sociedade.
Quem abriu o debate foi Débora Maria dos Santos Silva, mãe de Edson Rogério da Silva, então com 29 anos, assassinado na onda dos crimes de maio de 2006 - acredita-se que em uma contra-ofensiva da Polícia de São Paulo aos ataques do PCC, o Primeiro Comando da Capital - notava-se a sua origem humilde: roupas simples, português repleto de erros; contudo, levou à esfera pública presente o que mais tinha a oferecer no momento: o coração partido de uma mãe enlutada. Débora ainda deu um alerta aos futuros jornalistas que ali se encontravam: “O jornalismo tem que ser transparente, doa a quem doer”. A mãe de Edson foi uma das fundadoras do Mães de maio, um movimento surgido em agosto de 2006, após o massacre sofrido por diversos jovens carentes naquele mês, na Baixada Santista.
Solange Moura, mãe de Sidney, perdeu seu filho na Febem e recebeu 3 versões diferentes sobre a morte do rapaz. Suicídio, rebelião seguida de morte ou a que mais a convence, contada por outros jovens internos: Sidney teria sido torturado, dopado e então assassinado. O caso foi arquivado por falta de provas para apuração.
Quando as convidadas foram questionadas por uma aluna da platéia sobre o apoio de autoridades recebido na época para as investigações, Solange contou ouvir de um delegado que o que acontecera a seu filho se tratava de um crime perfeito, ela então rebateu: “eu não acredito em crimes perfeitos. Eu acredito em crimes mal investigados, e só investigam bem quando há o interesse”. Já para Débora restam palavras de indignação: “o descaso das autoridades foi a coisa mais absurda desse mundo, não se mata tanta gente, e todos os crimes foram arquivados.O Ministério Público hoje fala que as investigações foram dele, mas não foram, nós, mães, que investigamos tudo”.
O debate daquela manhã também gerou polêmica. Em determinado momento, um estudante (apoiado por tantos outros), questionou se não estava ocorrendo uma inversão de valores naquele instante: “o problema é que os policiais militares são colocados aqui só como assassinos, e não tem só assassinos. Então eu acho que está ocorrendo o inverso, ninguém fala do PCC, ninguém fala que eles também são culpados. O crime saiu às ruas e tomou conta, nada justifica o que os policiais militares fizeram. Mas vocês não acham que é perigoso uma inversão desse tipo?”. Em resposta, Débora diz: “o crime organizado não foi formado pelo meu filho, foi feito pelo Estado, porque o Estado é corrupto, ele não investe no ser humano, investe em arma e viatura”. Outro integrante do Mães de maio complementou: “nós queremos inverter (os valores), queremos uma polícia que nos proteja e não que nos mate”. O público foi então dividido por aqueles que condenam os policiais e aqueles que acreditam na instituição.
As Mães de maio foram convidadas a compor o texto do novo Plano Nacional de Direitos Humanos, o PNDH-3. Débora, inclusive, enfatiza: “esse plano tem que sair do papel, eu não gostei que mexeram, o plano é de um movimento social, não pode ser mudado, não pode tirar uma virgula e nem um ponto.”
Em uma parte do debate, Débora denuncia um telefonema recebido por um delegado no dia que seu filho foi morto: Débora, avisa para as pessoas de bem não sairem as ruas porque quem estiver na rua é nosso inimigo, mas avisa pras pessos de bem, não para lixo. “Ele nunca imaginava que aquele lixo que ele frisou era o meu filho, que foi morto naquela noite”. Já Solange fala emocionada sobre as frequentes torturas sofridas pelo seu filho no período que esteve na FEBEM. “A gente quer solucionar os crimes de maio para não continuarem acontecendo. E D´us vai dar força pra gente, porque a semente já está plantada. Um mundo melhor é possível sim.“ Diz ela.
Um mundo melhor é possível, e é para atingir esse fim que lutam as Mães de maio. Entretanto, dentro da sociedade cada um tem o seu papel. O jornalista, mais do que ouvir, tem o dever ético, moral e social de elevar a voz de pessoas e grupos silenciados pela mídia surda, injustiçados pelo poder judiciário e o mais lastimável: ignorados pela população que os rodeia. Contudo, é necessária cautela para não desmoralizar instituições públicas e enaltecer o crime organizado, trocando o papel de bandido pelo mocinho.

Amanda

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